Tradução em português do Pronunciamento do Presidente da Republica, Emmanuel Macron, feito em 14 de junho de 2020, às 20H
"Francês, francesas
Meus compatriotas
Hoje à noite eu quero falar com vocês sobre os próximos dias, de nossa organização face à epidemia, tirar as primeiras lições desta crise, e desenhar em algumas linhas nosso novo caminho.
A partir de amanhã, poderemos virar a página sobre o primeiro ato, de certa forma, da crise que acabamos de atravessar.
A partir de amanhã, todo o território - com exceção de Mayotte e Guiana, onde o vírus ainda circula ativamente - todo o território passará, para o que hoje é chamado de "zona verde", que permitirá sobretudo, uma retomada mais forte do trabalho, e a reabertura de cafés e restaurantes na Ile-de-France.
A partir de amanhã, será novamente possível se deslocar entre os países europeus. E a partir de 1 º de Julho, poderemos ir para os estados fora da Europa onde a epidemia estará controlada.
A partir de amanhã, na França, como em Outre-mer, creches, escolas, colégios, se prepararão para receber à partir de 22 de junho todos os alunos, de forma obrigatória e de acordo com as regras de frequência normal.
Devemos continuar evitando reuniões o máximo possível porque sabemos que são as principais oportunidades para a disseminação do vírus, por isso permanecerão muito supervisionados.
O segundo turno das eleições municipais poderão acontecer nos municípios concernés, no dia 28 de junho.
Finalmente, para nossos idosos em asilos ou instituições, as visitas serão à partir de agora, permitidas.
Assim, poderemos redescobrir o prazer de estar juntos, de voltar ao trabalho plenamente, mas também de nos divertirmos, de nos cultivarmos.
Recuperaremos parte do nosso modo de vida, nosso gosto pela liberdade. Em suma, iremos reencontrar plenamente a França.
Isso não significa que o vírus desapareceu e que podemos baixar completamente a guarda. Teremos ainda que conviver com ele durante longo tempo, respeitar as regras da distância física, o verão de 2020 não será um verão como os outros, e teremos que observar a evolução da epidemia para nos prepararmos caso ela volte com mais força.
A luta contra a epidemia não acabou, mas estou feliz, com vocês, com esta primeira vitória contra o vírus. E esta noite quero pensar com emoção aos nossos mortos, à suas famílias, cujo luto foi ainda mais cruel por causa das restrições deste período.
Fechar hoje o momento iniciado com o desconfinamento não tinha nada de óbvio.
Se podemos reabrir o país, é porque à cada etapa da epidemia todos tomaram sua parte. O primeiro-ministro e o governo trabalharam duro, o Parlamento se reuniu, o Estado se manteve, os representantes eleitos no terreno comprometeram-se.
Em 16 de março, fizemos a escolha humanista de colocar a saúde acima da economia, pedindo à vocês para ficarem em casa. Vocês então fizeram prova de um senso de responsabilidade admirável. E graças ao excepcional comprometimento de nossos cuidadores e de todas as equipes, todos os pacientes que precisavam deles puderam ser atendidos no hospital ou na medicina da cidade.
Graças a todos vocês que continuaram a trabalhar, apesar da angústia de muitos, para assegurar os serviços essenciais à Nação, conseguimos nos alimentar e continuar vivendo.
Quando anunciei em 13 de abril, o término do confinamento em 11 de maio - sei que muitos o desconselhava, não havia consenso, as opiniões eram muito diferentes, inclusive entre os cientistas - mas nós coletivamente e metodicamente preparamos o que foi chamado de desconfinamento. Mais uma vez, todos trabalharam duro, nós superamos os medos, as ansiedades. E vocês saíram novamente e retomaram o trabalho. Fizemos a coisa certa. Nossas usinas, nossos comércios, nossas empresas puderam recomeçar.
A nova etapa que começa à partir de amanhã acelerará a retomada. Isto é preciso, e là também, conto com vocês. Porque devemos fazer plenamente retomar nossa economia, continuando a proteger os mais frágeis.
Não temos que corar (nos envergonhar) meus caros compatriotas do nosso balanço. Dezenas de milhares de vidas foram salvas por nossas escolhas, por nossas ações. Em poucos dias, conseguimos dobrar nossa capacidade de reanimação, organizar transferências de centenas de pacientes entre regiões e com países vizinhos, alimentar os comércios, reorientar nossa produção industrial, inventar novas solidariedades.
O período mostrou que temos du ressort, recursos. Que, diante de um vírus que nos atingiu mais cedo e mais forte do que muitos outros, fomos capazes de ser inventivos, reativos, sólidos.
Podemos nos orgulhar do que foi feito e do nosso país.
É claro que essa provação também revelou falhas, fragilidades: nossa dependência de outros continentes para obter certos produtos, nossos encargos organizacionais, nossas desigualdades sociais e territoriais.
Quero que aprendamos todas as lições do que passamos e com vocês, compreender o que fizemos melhor ou o que fizemos com menos sucesso do que nossos vizinhos. Nossos pontos fortes, vamos fortalecê-los, nossas fraquezas, vamos corrigi-las rapidamente e fortemente.
O momento que nos atravessamos e que vem depois de muitas crises nos últimos quinze anos, nos impõem de abrir uma nova etapa à fim de recuperarmos o controle total de nossas vidas, nosso destino, na França e na Europa.
Esta será a prioridade para os próximos dois anos que eu quero útil para a Nação.
É também o marco da década que temos diante de nós. Reencontrar nossa independência para viver feliz e viver melhor.
Com a epidemia, a economia global praticamente parou.
Nossa prioridade é, portanto, reconstruir uma economia forte, ecológica, soberana e solidária.
Desde o primeiro dia da crise, nossa mobilização tem sido total. "Custe o que custar": esse foi o compromisso que fiz com vocês em março. Desemprego parcial, empréstimos para empresas, apoio aos comerciantes, trabalhadores autônomos, apoio aos mais precários: tudo tem sido feito pelo Governo para salvaguardar nossos empregos e ajudar a todos. Decidimos planos maciços para os setores mais atingidos: indústria automotiva, aeronáutica, turismo, cultura, restaurantes, hotelaria e continuaremos. No total, mobilizamos quase 500 bilhões de euros para a nossa economia, para os trabalhadores, empreendedores mas também para os mais precários. Isto é inédito. E eu quero esta noite, que vocês o meçam plenamente. Quantos países fizeram o mesmo? Esta é uma (sorte) oportunidade e mostra a força do nosso Estado e do nosso modelo social.
Essas despesas foram justificadas e se justificam devido às circunstâncias excepcionais. Mas eles se ajuntam a nossa dívida já existente. Não vamos financiá-los aumentando os impostos: nosso país já é um dos países com os impostos mais altos, embora tenhamos começado a reduzi-lo nos últimos três anos. A única resposta é construir um modelo econômico sustentável e mais forte, trabalhar e produzir mais para não depender dos outros. E temos que fazer isso, mesmo que nosso país passe por múltiplas falências e planos sociais por causa da paralisação da economia mundial.
É por isso que eu vou assumir com vocês, com todos os pontos fortes do nosso país, avec le tissu de nossas empresas, com nossos funcionários, bem como nossos trabalhadores autônomos, nossos corpos intermediários, me engajarei nessa reconstrução econômica.
Primeiro, devemos fazer todo o possível para evitar o máximo de demissões. É por isso que, juntamente com sindicatos e empregadores, iniciamos uma negociação para que, em todas as empresas, possamos preservar o maior número possível de empregos, apesar da baixa de atividade.
Precisamos criar novos empregos investindo em nossa independência tecnológica, digital, industrial e agrícola. Através de pesquisa, consolidação de setores, atratividade e relocalização quando isto se justifique. Um verdadeiro pacto produtivo.
Precisamos criar os empregos do amanhã por meio da reconstrução ecológica que reconcilie produção e clima: com um plano de modernização do País em torno da renovação térmica de nossos edifícios, transportes menos poluentes, apoio às indústrias verdes. Isto passará também pela aceleração de nossa estratégia marítima, nos que somos a segunda potência oceânica mundial. A Convenção dos Cidadãos apresentará seu trabalho em poucos dias, o que contribuirá para este projeto.
Essa reconstrução deve também ser social e solidária. Um impulso à saúde, como começamos a fazer com a negociação do Ségur que, não somente revalorizará os profissionais de saúde, mas permitirá de transformar o hospital como a medicina de ville por meio de novos investimentos e uma organização mais eficaz e preventiva.
Um relançamento solidário que protegerá melhor nossos idosos, e também protegerá melhor os mais pobres entre nós.
Finalmente, um reavivamento social e solidário, através de um investimento maciço na educação, treinamento e empregos de nossa juventude. Devemos isso a ela: pedimos tanto durante o período. Ela vai ter ainda um verão difícil e um começo difícil (retorno às aulas) para o ano e é ela que está carregando a dívida ecológica e orçamentária.
Este plano de reconstrução será feito com a Europa, que, após um início tímido, se levantou à altura do momento. O acordo franco-alemão sobre dívida conjunta e um plano de investimento para girar a economia do continente é um ponto de virada histórico. Ao emprestarmos pela primeira vez juntos, com a Chanceler da Alemanha, propomos aos outros Estados europeus dizer "nós" em vez de uma adição de "eu". Este é o resultado do trabalho árduo, iniciado pela França, e que fazemos há três anos. Este pode ser um passo sem precedentes em nossa aventura europeia e na consolidação de uma Europa independente que se dá os meios para afirmar sua identidade, sua cultura, sua singularidade face à China, aos Estados Unidos e da desordem global que conhecemos. Uma Europa mais forte, mais solidaria e soberana. Esta é a luta que lutarei por vocês no Conselho Europeu em Julho e nos próximos dois anos.
Essa reconstrução econômica, ecológica e solidária será a chave para nossa independência. Ela será preparada durante todo o verão com as forças vivas da nossa Nação para ser implementada o mais rápido possível.
A independência da França para viver melhor exige também nossa unidade em torno da República. Este é o segundo eixo desta nova etapa. Vejo-nos dividindo-nos por tudo e às vezes perdendo o significado de nossa história. Unir-se em torno do patriotismo republicano é uma necessidade.
Somos uma nação onde cada um, independentemente de suas origens, suas religiões, devem encontrar seu lugar. Por acaso isto é verdadeiro em todos os lugares e para todos? Não.
Nosso combate deve portanto, continuar, intensificar-se para permitir obter os diplomas e empregos que correspondem aos méritos e talentos de cada um e lutar contra o fato de que o nome, o endereço, a cor da pele reduzam muitas vezes ainda reduzem a igualdade de oportunidades que cada um deve ter.
Seremos intransigentes diante do racismo, antissemitismo e à discriminação e novas decisões fortes serão tomadas.
Mas este combate nobre é equivocado quando se transforma em comunitarismo, em reescrita odiosa ou falsa do passado. Esta luta é inaceitável quando é recuperada pelos separatistas.
Digo isso claramente a vocês esta noite, meus caros compatriotas, a República não apagará nenhum traço ou nome de sua história. A República não vai demolir estátuas. Em vez disso, devemos olhar claramente para toda a nossa história, todas as nossas memórias, nossa relação com a África em particular, a fim de construir um presente e um futuro possível, do outro lado do Mediterrâneo com vontade de verdade e de forma alguma revisitar ou negar o que somos.
Não construiremos nosso futuro em desordem.
Sem uma ordem republicana, não há segurança, nem liberdade. Esta ordem é garantida pela polícia e gendarmes em nosso solo. Eles estão expostos a riscos cotidianos em nosso nome, razão pela qual merecem o apoio do poder público e o reconhecimento da Nação.
Finalmente, caberá a mim construir novos equilíbrios de poder e responsabilidade. Este é o terceiro eixo que vejo nesta nova fase. Tenho uma profunda convicção de que a organização do Estado e nossa ação deve mudar profundamente.
Tudo não pode ser decidido tantas vezes/somente em Paris.
Face à epidemia, cidadãos, empresas, sindicatos, associações, autoridades locais, agentes estatais nos territórios fizeram prova de engenhosidade, eficiência e solidariedade.
Confiemos mais neles. Liberemos a criatividade e a energia do terreno.
É por isso que quero abrir uma nova página para o nosso País dando liberdade e responsabilidades sem precedentes àqueles que atuam tão perto de nossas vidas, liberdade e responsabilidades para nossos hospitais, universidades, empreendedores, prefeitos e muitos outros atores essenciais.
Meus caros compatriotas
Esse projeto de independência, de reconstrução só é possível porque, nos últimos três anos, fizemos um trabalho incansável pela educação, pela economia, pela luta contra a desigualdade em nosso País. Porque também lutamos pelo nosso projeto europeu e pelo nosso lugar na ordem internacional.
Não acredito que superar os desafios diante de nós, seja voltar atrás, não.
Mas os tempos impõem desenhar um novo caminho. É assim que cada um de nós deve se reinventar como eu disse e devemos fazer coletivamente diferentemente - e vocês compreenderam - o que eu comecei a esboçar esta noite, aplico em primeiro lugar e antes de tudo, a mim mesmo.
É nesse espírito de harmonia que pedi aos presidentes das duas Câmaras Parlamentares e do Conselho Econômico, Social e Ambiental que proponham algumas prioridades suscetíveis de reunir o maior número de pessoas. É também neste espírito que iniciei amplas consultas que continuarei nos próximos dias.
Falarei com vocês em julho para esclarecer esse novo caminho, lançar as primeiras ações. E isto não vai parar.
Meus caros compatriotas
Temos diante de nos desafios históricos.
Para supera-los, não esqueçamos jamais nossas forças: nossa história, nossa juventude, nosso senso de trabalho e compromisso, nossa vontade por justiça, nossa capacidade de criar e mudar o mundo, nossa benevolência.
Ajamos em conjunto com todas essas forças ligadas ao corpo.
Tenhamos juntos essa vontade de conquistar, essa energia do dia que vai chegar
Viva a República!
Viva a França! "
Comments